DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A
Mateus 9,36 -10,8
A IGREJA : DEUS TEM NECESSIDADE DOS SERES HUMANOS
Por causa da descristianização, hoje em dia, mais que no passado, se fala de evangelização, e até mesmo de “segunda evangelização”. Com efeito, certos ateus de hoje são filhos ou netos de cristãos. E alguns receberam uma primeira evangelização.
Deixemo-nos conduzir por Jesus para melhor compreender como “Ele” vê este grave problema.
Jesus teve compaixão das multidões
fatigadas e abatidas
como ovelhas sem pastor.
A primeira lei do apostolado, é adotar o próprio olhar de Jesus.
Não se trata, pois, de recrutamento de gente para a instituição Igreja. Nem é publicidade para vender o produto Evangelho. Não é um empreendimento para fazer programas de conquistas ideológicas.
É uma atitude do coração de Jesus. A palavra que Ele utilizou aqui é muito bela e muito forte: “Jesus teve compaixão”. Dever-se-ia traduzir literalmente: “Ele foi tomado nas entranhas”. A palavra hebreia que está por trás desta frase é: “raHamin”, que significa precisamente as entranhas maternais.
O que foi, pois, que emocionou Jesus até o mais profundo de si mesmo?
Ele vê pessoas “fatigadas e abatidas”... Por vezes se traduziu por “exaustas e prostradas”... Homens e mulheres sem energia, que não aguentam mais. Pessoas arrasadas, tomadas pelo desgosto diante da absurdidade de suas vidas... que não tem sentido, que não sabem onde vai sua vida. Multidões sem pastor: um rebanho que se esgota inutilmente pelas estradas que não levam a lugar nenhum. Pode-se, hoje, sem forçar demais, traduzir por “multidões sem Deus... multidões que perderam o sentido de suas vidas.”
Esta bem parece ser a primeira motivação do apostolado: ver a infelicidade de uma vida sem Deus.
A messe é grande:
pedi ao dono para enviar operários.
Diante desta situação desoladora e que lhe aperta o coração, Jesus não desanima. Ele não cruza os braços. De maneira extremamente positiva, Ele vê a humanidade como um campo de trigo maduro que ondula sob o vento, totalmente pronta para a colheita.
E sua segunda reação é a oração! “Pedi ”, Ele diz.
Esta é a segunda lei do apostolado: a evangelização se enraíza na adoração e na súplica.
Toda a história da Igreja, toda a história dos santos nos lembra isso.
Por que, então, esta recomendação á oração? Por que Deus não envia, Ele mesmo, diretamente, operários à sua colheita? Por que pede Ele para rezar?
É para afirmar com força que Ele precisa de seres humanos para o seu trabalho: imenso respeito pela responsabilidade humana.
O primeiro operário que Deus tem à Sua mão é você, se você reza. E não reze apenas para que Ele envie os outros, vai você mesmo! “Senhor, envia-me, eu te peço!”.
Fala-se muito da crise de vocações. E se, no fundo, não se trata é de crise da oração? Na evangelização, nós não trabalhamos por nossa conta. Nós estamos no campo de Deus, na Sua colheita.
Daí segue a prioridade a Deus, na oração. E, neste sentido, a renovação cristã da oração está cheia de esperança
Jesus chamou seus “Doze”
e lhes deu poder de expulsar... e de curar...
Anotemos isto, e é bom que fique bem claro, nós talvez o tenhamos esquecido, que Jesus, entre centenas e milhares de discípulos que O seguiam, Ele distinguiu e escolheu alguns, aos quais Ele deu poderes particulares. O sacerdócio ministerial tem sua fonte aqui, numa vontade muito evidente de estruturar sua Igreja... à maneira pela qual estava estruturado o povo de Israel em doze tribos.
É, então, claro que esta recomendação “Pedi ao dono para enviar operários à sua messe” não se aplica somente à vocação do conjunto dos cristãos. Ela se aplica prioritariamente a essa vocação particular destes que Jesus colocou à parte.
E isto, certamente, não diminui em nada o apelo global que é feito a todo batizado de ser um apóstolo em sua vida de leigo fiel de Cristo, como nos lembrou fortemente o Papa João Paulo II em sua exortação apostólica pós-sinodal, “Christifideles laici” (Sobre a Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo) em 1988.
Sem negligenciar o apostolado de todos, no seguimento de Jesus, supliquemos ao Pai que envie padres à sua Igreja... que Ele envie pastores às multidões sem pastor.
(Do livro “Les Entretiens du Dimanche – Année A” Noel Quesson, Droguet-Ardant p. 133-135.
Tradução de Frei Basílio de Resende ofm)
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