DE GUERRA E DE PAZ
Algumas interrogações de Frei Basílio de Resende ofm
UMA EREMITA NA MONTANHA
(Autor desconhecido, uma parábola)
"Um dia, uma pessoa subiu a montanha onde se refugiava uma mulher eremita que estava meditando e perguntou-lhe: - O que você está fazendo nessa solidão? Ao que ela respondeu: - Eu tenho um monte de trabalho. - E como você pode ter tanto trabalho? Não vejo nada por aqui ... - Tenho que treinar dois falcões e duas águias, tranquilizar dois coelhos, disciplinar uma cobra, motivar um burro e domar um leão. - E onde estão eles que não os vejo? - Eu os tenho dentro de mim:
Os falcões se lançam sobre tudo que vem pela frente, bom ou ruim, tenho que treiná-los para pular em coisas boas. Eles são meus olhos. As duas águias com suas garras machucam e destroem, eu tenho que ensiná-las a não causar danos. Elas são minhas mãos. Os coelhos querem ir para onde querem, não para evitar situações difíceis, tenho que ensiná-los a ter calma mesmo que haja sofrimento, ou tropeço. Eles são meus pés. O burro está sempre cansado, é teimoso, não quer carregar sua carga muitas vezes. É meu corpo. O mais difícil de domar é a cobra. Embora ela esteja trancada em uma gaiola forte, ela está sempre pronta para morder e envenenar qualquer pessoa ao seu redor. Eu tenho que discipliná-la. É minha língua. Eu também tenho um leão. Oh ... quão orgulhoso, vaidoso, ele pensa que é o rei. Eu tenho que domá-lo. É meu ego. - Eu tenho um monte de trabalho. E você trabalha no que?"
1. a verdadeira guerra
Qual é a verdadeira guerra que cada indivíduo humano é destinado a combater?
“Todos somos soldados, armados ou não” (G. Vandré).
Aliás, todos como bons soldados devemos estar bem armados, como disse São Paulo:
“Enfim, fortalecei-vos no Senhor, no poder de sua força; revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do diabo... Por isso, revesti-vos com a armadura de Deus, a fim de que possais resistir no dia mau e permanecer firmes depois de terdes superado toda prova. Ficai, pois, firmes, tendo a verdade como cinturão, a justiça como couraça e os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Em todas as circunstâncias, empunhai o escudo da fé, com o qual podereis apagar todas as flechas incendidas do Maligno. Tende o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a palavra de Deus.” (Ef 6,10.11-17).
Qual é o bom combate que, todos nós, humanos - homens e mulheres, de todas as raças, culturas e civilizações, de todos os tempos e lugares – devemos combater?
“Portanto, meu filho, esta é a recomendação que te faço, de acordo com as profecias proclamadas, outrora, a teu respeito: fortificado por elas, combate o nobre combate, com fé e boa consciência.” (1Tm 1,18).
“Combate o bom combate da fé, procura alcançar a vida eterna, para a qual foste chamado quando fizeste a tua bela profissão de fé diante de muitas testemunhas. (1Tm 6.12).
“Quanto a mim, já estou sendo oferecido em libação, pois chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Desde agora, está reservado para mim o prêmio da justiça que o senhor, o justo juiz, me dará naquele dia, não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua manifestação.” (2Tm 4,6-8)
2. as guerras que nos enobrecem como seres humanos
- Então quais são as guerras que nos enobrecem como seres humanos - imanentes e transcendentes, racionais e éticos, responsáveis, solidários, autônomos, senhores e governadores de nós mesmo e deste mundo, criadores de civilizações que nos honram?
São estas as guerras:
- a guerra contra a falta de uma vida verdadeira e plenamente humana e relacional: corpo-alma-espírito-coração-mente e relações, para todas as pessoas, famílias, clãs, tribos, línguas, de todas as etnias, povos e nações;
- a guerra contra a pobreza material e espiritual;
- a guerra contra todo tipo de fome;
- a guerra contra a desigualdade social injusta;
- guerra contra todo tipo de preconceito e de exclusão;
- a guerra contra toda forma de ignorância;
- a guerra contra todo tipo de divisão injusta;
- a guerra contra todo tipo de opressão e violência;
- a guerra em favor do Planeta Terra e por uma Ecologia Integral;
- a luta pela justiça social, pela verdade que liberta, pelo amor ao irmão e à irmã, pelo respeito ao que é sagrado no ser humano e nos seres vivos e nos vegetais e nos minerais e mananciais, e o respeito ao habitat adequado aos seres vivos.
- a paixão e luta pela vida, pela terra, pela justiça, pelo que é bom, belo e verdadeiro. Pela cultura e civilização da paz.
3. A PALAVRA DO MAGISTÉRIO DA IGREJA CATÓLICA
Em duas encíclicas magistrais, o Papa Francisco apresenta uma proposta e um projeto que merece a consideração de todo cidadão do mundo, de todo político, de todo homem ou mulher de ação e de influência:
LAUDATO SI – SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM (24/05/2015)
FRATELLI TUTTI – SOBRE A FRATERNIDADE E A AMIZADE SOCIAL (03/10/2020)
Há uns grupos de católicos, politicamente e culturalmente conservadores e radicais, que julgam que o Papa Francisco, é comunista.
Uns que chegam até a negar o Pentecostes para os tempos modernos que representou o acontecimento do Concílio Vaticano II, no qual os discípulos de Cristo - obediente à vontade misericordiosa do Pai que o enviou para salvar e não para condenar o mundo (Jo 3,16-17) - tomaram uma nova consciência de sua missão e uma nova atitude de amor, de compaixão, de serviço, de diálogo em relação ao mundo moderno (vejam, por exemplo, Lumen Gentium e Gaudium et Spes). Esses julgam serem eles a verdadeira Igreja de Cristo, e consideram que, a partir de Pio XII, a Sé Apostólica de Roma está vacante.
Então para esses, que se fixaram culturalmente no Concílio de Trento e na Idade Média, eu vou citar três encíclicas que tratam das questões sociais e políticas, a partir da Fé em Jesus Cristo e no Evangelho:
RERUM NOVARUM (DAS COISAS NOVAS) – SOBRE AS CONDIÇÕES DOS OPERÁRIOS (15/05/1891) DE LEÃO XIII
QUADRAGESIMO ANNO (NO QUADRAGÉSIMO ANO) – SOBRE A RESTAURAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA ORDEM SOCIAL (15/05/1931) DE PIO XI
DIVINI REDEMPORESI (DO DIVINO REDENTOR) – SOBRE O COMUNISMO SOVÉTICO E ATEU (19/03/1937) DE PIO XI
Mas temos também, de papas após o Concílio Vaticano II:
:
MATER ET MAGISTRA (MÃE E MESTRA) (15/05/1951) DE JOÃO XXIII
PACEM IN TERRIS (PAZ NA TERRA) (11/04/1963)
POPULORUM PROGRESSIO – SOBRE O DEENVOLVIMENTO DOS POVOS) (26/03/1967) DE PAULO VI
OCTOGESIMA ADVENIENS (CHEGANDO À OCTOGÉISMA) – CONVOCAÇÃO À ACÃO DE JOÃO PAULO II (1967)
LABOREM EXERCENS – SOBRE O TRABALHO HUMANO, DE JOÃO PAULO II (1981)
SOLICITUDO REI SOCIALIS – A SOLICITUDE SOCIAL DA IGREJA DE JOÃO PAULO II (1987)
CENTESIMUS ANNUS (O ANO CENTENÁRIO) DE JOÃO PAULO II (15/05/1991)
CARITAS IN VERITATE (CARIDADE NA VERDADE) DE BENTO XVI (29/06/2009)
4. QUAL É A SUA GUERRA?
AFINAL VOCÊ É SOLDADO, MILITANTE E GUERREIRO DE QUÊ GUERRA?
POR QUAL MUNDO VOCÊ LUTA?
DE QUÊ VIDA, DE QUÊ MUNDO, DE QUÊ CULTURA, DE QUÊ CIVILIZAÇÃO VOCÊ É ARTÍFICE E CONSTRUTOR?
DE QUÊ REINO VOCÊ QUER SER SINAL, TESTEMUNHA, CIDADÃO, PARTICIPANTE:
DO REINO DE DEUS E SUA JUSTIÇA, ANUNCIADO E INAUGURADO POR JESUS CRISTO QUE CONVIDA A SEGUI-LO PELA LIVRE ESCOLHA DA FÉ E DO AMOR À SUA PESSOA E AOS SEUS IRMÃOS E IRMÃS, EM PLENA LIBERDADE E FIDELIDADE?
OU DE ALGUM OUTRO REINO DESUMANO E INJUSTO QUE É IMPOSTO POR UNS CONTRA OS OUTROS PELA FORÇA E PELAS ARMAS, EXIGINDO SUBMISSÃO E ESCRAVIDÃO? (ESSE REINO É DE SATANÁS, MESMO QUE SE APRESENTE COMO SENDO "DE DEUS")
Frei Basílio de Resende ofm
Noviciado São Benedito, Montes Claros, MG;
E-mail: freibasilioofm@hotmail.com
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