DE GUERRAS E PAZ – III- A GEOPOLÍTICA GLOBAL
Estes homens que brincam com jogos de guerra.
Existe uma guerra justa? Pode-se igualar em valor moral soldados ou dirigentes de povos que agridem e invadem o território de outros povos, e os soldados e dirigentes que defendem seu território, sua autonomia, sua independência e liberdade ?
Há uma razão moral, uma ética humana para matar ou morrer?
Há lugar para o valor individual e para o heroísmo nas guerras modernas, mecanizadas, eletrônicas, cibernéticas?
Pode-se dizer que é um herói, quem aperta um botão e produz um efeito de destruição e morte, a milhares de quilômetros de distância, e admira, contente, espetáculos de destruições, lágrimas, dores, desesperos, corpos sangrando, mutilados ou sem vida?
1. GEOPOLÍTICA
- A teoria de dissuasão pelo armamento -
Os ideólogos do Império Romano. - em sua lógica do poder e do império, - diziam: “Se queres a Paz, prepara a Guerra!”.
Os atuais pretendentes a Imperadores, a Senhores e Donos do Planeta e buscam impor a sua Ordem global - pelas armas, pela força, e intimidação –, são bons discípulos e fiéis seguidores dos antigos imperialistas romanos. Criaram até uma doutrina de segurança nacional de dissuasão.
No entanto, - os antigos - criaram uma civilização e, cujos vestígios ainda nutrem a inteligência e a admiração da atual geração do planeta: abriram estradas, construíram monumentos, tinham imperadores sábios e filósofos, tiveram grandes poetas e oradores, como Ovídio, Virgílio, Cícero e outros.
2. OS INTERESSES QUE SUSCITAM E ALIMENTAM AS GUERRAS
A guerra é um alto negócio para quem não tem princípios morais, éticos e humanitários. Só interesses não declarados, de natureza eróticos, financeiros, militaristas, econômicos, geopolíticos e outros, tanto ao nível de indivíduos, de organizações, de estados, de nações, de blocos.
Os senhores da guerra, chamam isto de teoria da dissuasão do inimigo e garantia da sua segurança nacional e econômica. Chamam isso de ação de segurança preventiva.
Mas uma guerra, pode ser um desencadeador dos mais indignos e desumanos impulsos e interesses da condição humana: os egoístas - individuais e coletivos -, os passionais e os financeiros (os antigos diziam que são os pecados capitais do humano ser – o orgulho, a ambição, a avareza, a inveja, a ira e a luxúria; os modernos dizem é a idolatria do Poder, da Riqueza e do Prazer).
Do ponto de vista ético, moral, espiritual, uma guerra é uma derrota da humanidade, uma degradação moral do ser humano. Os indivíduos beligerantes, vivem numa condição de elevada adrenalina, estresse, que os impulsiona a morrer ou matar como heróis; a agredir e mostrar-se fortes e superiores; a bater para intimidar e submeter por sadismo; a estuprar para mostrar poder humilhar descarregar tensões...
Os indivíduos podem tornar-se desumanos, ‘animalizados’ - com o perdão dos animais que lutam apenas por instinto de defesa de território ou do seu grupo, por instinto de supremacia, por instinto de sobrevivência do indivíduo ou da espécie, por instinto de alimentação e de procriação.
Em uma situação de guerra, Indivíduos sem consciência ética e sem elevação espiritual, com uma metralhadora na mão, eles têm a chance de satisfação de todos os seus instintos mais desumanos de erotismo sem ternura, de sadismo sem compaixão, de cobiça de prazeres e de bens, de reconhecimento a todo preço, de avareza etc...
Eles estupram, torturam, roubam, matam... E são condecorados como heróis.
Numa guerra uma metralhadora é fonte de receita garantida e de satisfação imediato de todos os instintos do animal no indivíduo humano.
3. A cilada em que caíram as sociedades contemporâneas –
No atual momento histórico do mundo, a lógica da geopolítica e da economia global e mundial, exigem as guerras como condição necessária para a sobrevivência, a segurança, e a prosperidade das nações e dos blocos de nações aliadas.
Quanto se investe, – em dinheiro, em material, em recursos humanos nas pesquisas e indústrias de armamentos?
Quanto custa – em dinheiro e trabalho humano – a fabricação de um fuzil, de uma metralhadora,de uma 7 KM. De um foguete, de um míssil de médio ou longo alcance e hipersônico, de um avião, navio ou submarino de guerra, de uma bomba nuclear ou de hidrogênio, de uma ogiva atômica?
Quanto custa todo esse esforço? Qual é o custo de uma guerra?
Qual é o prejuizo de uma não guerra, se todo esse esforço e investimento de guerra não for usado, ou não vendido?
Quais são os efeitos de uma época de paz, para a economia de todo esse esforço de indústria de guerra? Estoques não usados, novas invenções não sendo produzidas, uma crise na indústria e no mercado de armamentos.
As grandes sociedades contemporâneas caíram numa cilada. Edificaram uma economia baseada na produção de armamentos, em grandes indústrias produtoras de armas.
Grande esforço e trabalho nacional empregado em pesquisas científicas e aplicações técnicas dirigidas para a produção de armas cada vez mais sofisticadas, precisa ter retorno; precisam ser utilizados.
O complexo industrial-militar de nossas sociedades hodiernas nas quais poderosos investimentos são feitos nessas pesquisas científicas, realizações tecnológicas e fabricação de artefatos para a morte. São gigantescos investimentos em recursos humanos e financeiros no esforço de guerra.
Só para citar as nações mais emblemáticas no empenho da supremacia e da segurança e da política de dissuasão militar: USA, CHINA, RÚSSIA...
Qual é o esforço de guerra empenhado?
Gastos militares absolutos (2014)
Cálculo em USA $ BILHÕES
1. EUA - - - - 597,5
2. CHINA - - - - 145,8
3. ARÁBIA SAUDITA - 81,9
4. RÚSSIA - - - 65,6
Em 2021 os gastos militares absolutos, superam 2 trilhões de dólares (US$ 2 TRILHÕES). EUA, China, ìndia, Reino Unido e Rússia lideram o mundo, só esses 5 países com 61,7 % do total. (Fonte Brasil de Fato, SP, 25 de abril de 2022, citando dados do SIPRI – Instituto Estocolmo para a Paz Mundial 25/04/2022).
Em 2021 2,2% do PIB global foi direcionado ao setor militar. Apesar da pandemia da Covid 19 esse montante é 10 vezes maior do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) solicitou para o combate dessa emergência sanitária.
1. Estados Unidos 801 Bilhões
2. China 293 Bilhões
3. Índia 76,6
4. Reino Unido 68,4 Bilhões
5. Rússia 65,9 Bilhões
Juntos esses 5 países concentram 61,7% do total de 2,113 trilhões de dólares (cerca de R$ 11,6 trilhões).
Fábricas, laboratórios e indústrias de armas químicas, biológicas, nucleares e convencionais, as mais sofisticadas. Verbas orçamentárias altíssimas, trabalhadores especializados, pesquisadores, químicos, engenheiros, operários. Os produtos de todo esse gigantesco investimento financeiro e esforço humano não pode ficar estocado em armazéns. São mercadorias na economia global e instrumento de poder e influência na geopolítica mundial.
Essas mercadorias precisam ser comercializadas.
As guerras têm esse duplo objetivo: econômico e influência política
Um exemplo:
O Establishment americano, não tem amigos. Tem aliados. Esses mudam de acordo com o jogo do xadrez do poder político.
Por exemplo do lado da aliança americana. Nos tempos do Império do Xá da Pérsia, os americanos consideravam a Pérsia o aliado confiável para manter o equilíbrio e seu poder de influência no Oriente Médio. Bastou, o exilado em Paris, o Aiatolá Khomeini, mobilizar as massas e o exército do Xá, solidarizar=se com as massas revoltadas, para cair o poderoso aliado. A Pérsia tornou-se Irã, com 60 milhões de habitantes, antiamericanos, e fortemente armados pelos americanos.
Aliam-se ao Iraque, de Saddam Hussein, na guerra Irã contra Iraque. Armam Saddam, inclusive com armas químicas, para reduzir o poder militar e a população do Irã. Apoiam Saddam no seu sonho de restaurar a grande Mesopotâmia, invadindo o Kuwait.
Depois fazem guerra a Saddam, liderados pelo Bush, pai.
A União Soviética invadiu o Afeganistão.
Os americanos apoiaram, treinaram e armaram Al-Qaeda do terrorista Osama Bin Laden para enfrentar e reter o avanço dos Soviéticos. Contra partidos políticos democráticos, apoiaram os Talibãs fanáticos para fazer frente aos soviéticos. Pouco depois o grande aliado, treinado e armado por eles, tornou-se o arqui-inimigo a ser destruído, e os próprios Talibãs, foram tirados do poder, na Guerra do Afeganistão, do Bush, filho.
Os Soviéticos, e seus aliados, criticavam os americanos. Mas faziam a mesma política e a mesma economia de guerra, ideológica, política e econômica: negócios e influência política e ideológica.
Atualmente, Rússia, com Ms Putin, critica o Establishment americano, mas pratica a mesma política e economia industrial militar. Atualmente, 70 % do armamento e poderio militar da Índia vem da Rússia. Altos negócios em armas, munições, peças de reposição. E influência política. O Governo da Índia apoia a Rússia em sua guerra contra a Ucrânia.
4. Os produtos desse gigantesco esforço são mercadorias –
Todos esses produtos para a guerra e a dissuasão precisam ter saída. São caríssimas mercadorias. Se ficam estocados nos armazéns de suas indústrias e de seus laboratórios, vão estagnar e emperrar a economia desses estados militarizados.
A economia pode entrar em crise de crescimento, em deflação.
Havendo tensões entre países e blocos, e ameaças de guerras agressivas e defensivas, e o próprio fato de estourar algumas guerras, revoluções, movimentos armados ou alguma ‘operação militar especial’ em algum lugar do planeta, criam-se as condições para se venderem as armas, essas mercadorias, cada vez mais sofisticadas.
Qual é o custo de cada uma dessas geniais criações humanas?
Qual é o orçamento militar do mundo?
Quanto cada país gasta com seus armamentos?
Armas químicas
Armas biológicas.
Armas de fogo (fuzis, metralhadoras, mk7, canhões, foguetes, mísseis antiaéreos, etc.)
Tanques
Navios de guerra
Submarinos nucleares
Armas nucleares (bombas atômicas e de hidrogênio)
Ogivas de lançamentos de mísseis e de bombas
5. Modernização e renovação dos armamentos –
Também o gênio da inteligência humana está cada vez mais criativo. Também na invenção e produção e comercialização de novas armas.
As armas são cada vez mais sofisticadas, mais modernizadas e mais potentes e mais inteligentes, e as potências precisam atualizar e renovar seus estoques. Precisam utilizar seus antigos modelos e experimentar os novos.
E as guerras são esta oportunidade e estímulo para novos inventos e novas pesquisas.
Tensões, ameaças de guerras e outras ‘operações militares especiais’, surgem os mercados para a venda dos antigos e novos modelos de armas. Tudo sob o pretexto de garantir sua segurança e sua existência e sua economia e prosperidade.
6. As minerações predadoras
Para a produção de todo o arsenal militar precisam-se das minerações. E essa, cada vez mais predadora e criminosa: destrói os mananciais de águas, poluem as existentes, produzem as barragens de rejeitos, que ameaçam as populações e, às vezes, as destroem na avalanche de toneladas de lama (ex. MARIANA, E BRUMADINHO).
Mas uma economia baseada em extrativismo antiecológico e socioambiental precisa de suas cifras. E o mercado de armas precisa desta matéria prima.
E o que dizer sobre a conexão entre os armamentos e a mineração. Essa predadora extração mineral?
7. As guerras no mundo, no momento, ano 2023 -
A atual poderosa e maciça invasão militar e agressão com potentes bombardeios russos na Ucrânia, nos fizeram relembrar todos os conflitos armados atualmente em atividade no mundo:
Na Etiópia.
No Iêmen,
em Mianmar,
no Afeganistão,
na Síria,
no Sudão do Sul,
os Militantes Islâmicos em Moçambique
8. Uma alternativa antropológica e humanitária possível ? -
Qual é o custo de todo esse esforço? Uma alternativa econômica viável para este complexo industrial-militar?
Uma possível reinversão de prioridades e objetivos da produção de instrumentos de morte para produção de instrumentos para o cuidado da vida, da saúde, da alimentação, da moradia, das infraestruturas sanitárias, da agricultura, da cultura, da educação, das artes, do planeta, da ecologia, etc
Desmilitarizando o mundo, todo esse gigantesco esforço e investimento econômico, científico e tecnológico seria destinado a salvar o planeta, aos cuidados pela nossa casa comum, “nossa mãe e irmã Terra” (São Francisco), ao saneamento básico, à construção de moradias, escolas, hospitais, estradas, fábricas de instrumentos agrícolas para a produção e distribuição de alimentos, de remédios, vacinas, etc...
9. Moralidade, humanidade, deontologia, elevação moral e espiritual humano
Fala-se em valor moral positivo ou avaliação moral negativa: virtudes ou pecados, individuais e coletivos...
Fala-se em crimes e pecados individuais, ações e decisões de sujeitos individuais, as consequências sociais das decisões privadas.
Fala-se de crimes e estruturas sociais, de pecados sociais, - injustiças, mortes, exclusões, opressões...
Pode-se falar em crimes e pecados geopolíticos? Pode-se falar em economia que mata a vida, a terra, a natureza? Pode-se falar em uma economia desumana, imoral, anti-humana?
O antropoceno atual, desenvolveu uma economia de guerra: o complexo industrial militar: investem-se trilhões de dólares em trabalho de pesquisa científica, em produção de armas químicas, bacteriológicas (biológicas), de fogo, foguetes, mísseis hipersônicos, atômicos, em tanques, aviões e navios para a guerra. Neste contexto as guerras, e os movimentos e ações armadas para se resolver conflitos entre pessoas, grupos, clubes, povos e nações é uma exigência dessa indústria de armamentos e dessa economia de guerra.
10. A posição oficial da Igreja Católica
A Igreja Católica tem um documento que é um texto oficial que resume o pensamento e a doutrina sobre a existência humana, chamado “CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA”. Esse texto foi elaborado por exigência do Papa São João Paulo II, para se ter um resumo oficial da crença, doutrina e ensinamento cristão católico sobre o mundo, a existência humana, Deus e a destinação definitiva do ser humano. Foi proclamado e publicado como o depósito da Fé, em 11 de outubro de 1992.
O documento tem 4 partes: Parte I – A Profissão da Fé, trata
do diálogo entre o ser humano e o Deus cristão; Parte II – A Celebração do Mistério Cristão, trata dos ritos e sacramentos da Fé cristã; Parte III – A Vida em Cristo, trata do sentido da vida e do mundo, do valor e dignidade da pessoa humana e do agir moral da nova pessoa segundo o Espírito de Cristo; Parte IV – A Oração Cristã, trata do cultivo da vida espiritual pela atitude e prática da oração.
Na parte III, A Vida em Cristo, trata da conduta moral e ética das pessoas, famílias, comunidades humanas, raças, povos e nações.
Neste contexto aborda, de forma adequada e atualizada culturalmente, o famoso Decálogo bíblico: os DEZ MANDAMENTOS, resumidos nos dois mandamentos: “AMARÁS AO SENHOR TEU DEUS DE TODO O TEU CORAÇÃO, DE TODA A TUA ALMA E DE TODO O TEU ENTENDIMENTO (Mc 22,37) E “AMARÁS O PRÓXIMO COMO A TI MESMO” (Mc 22,39)
E aborda o V Mandamento: “Não matarás” (Ex 29,13; Mt 5,21-22), nos números 2258-2330, em que afirma “A vida humana é sagrada... Só Deus é o dono da vida, do começo ao fim, ninguém em nenhuma circunstância pode reivindicar para si o direito de destruir um ser humano...“ (2258). Essa afirmação exige o dever ético fundamental: “O respeito à vida humana (2259-2283); o respeito à dignidade das pessoas (à alma do outro, à saúde, à pessoa e à pesquisa científica, à integridade corporal, aos mortos) (2284-2301); a salvaguarda da paz e evitar a guerra (2302-2317)”
No números 2304, estabelece sobre a paz:
“O respeito e o desenvolvimento da vida humana exigem a paz. A paz não é somente ausência de guerra, e não se limita a garantir o equilíbrio das forças adversas. A paz não pode ser obtida na terra sem a salvaguarda dos bens das pessoas, sem a livre comunicação entre os seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos, a prática assídua da fraternidade. É a “tranquilidade da ordem”; fruto da justiça e efeito da caridade.
No número 2305, afirma na perspectiva da fé e esperança cristã:
“A paz terrestre é imagem e fruto da paz de Cristo, o “Príncipe da paz” messiânica (Is 9,5). Pelo sangue de sua cruz ele “matou a inimizade na própria carne” (Ef 2,16), reconciliou os homens com Deus e fez de sua Igreja o sacramento da unidade do gênero humano e de sua união com Deus.” Ele é a nossa paz” (Ef 2,14). Declara: “Bem-aventurados os que promovem a paz” (Mt 5,9).
No número 2317, afirma:
“As injustiças, as desigualdades excessivas de ordem econômica ou social, a inveja, a desconfiança e o orgulho que grassam entre os homens (as pessoas) e as nações, ameaçam sem cessar a paz e causam as guerras. Tudo o que for feito para vencer essas desordens contribui para edificar a paz e evitar a guerra.”
A encíclica “sobre a fraternidade e a amizade social”, Fratelli Tutti, do Papa Francisco (todo esse documento está neste Blog) fala sobre edificar a paz, “a arquitetura e o artesanato da paz” (FT 228-232) e sobre “a guerra e a pena de morte” (FT 255-262).
Frei Basílio de Resende ofm
Noviciado São Benedito
Montes Claros, MG
17 de fevereiro de 2023
Paz plena. Quando comecei a falar sobre a "PAZ RELIGIOSA" a partir do ano de 1982, nenhum líder religioso me compreendeu. A partir de 1986 passei a falar sobre a "PAZ PLENA" na terra, mas para entender e viver em PAZ PLENA é necessário compreender a VERDADE PLENA. (18/02/2023).