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Foto do escritorFrei Basílio de Resende ofm

JOÃO 1,14 de Jorge Luís Borges


João 1,14


Jorge Luís Borges (1899-1986)

Suas obras abrangem o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". São coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns: sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores fictícios, livros fictícios, religião e Deus.

Em sua campa, no Cemitério de Plainpalais, em Genebra, na Suíça. está uma inscrição em Inglês Antigo, língua que ensinou na Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Trata-se do poema Battle of Maldon, que se traduz em “não tenhas medo de nada”.

(Formatação de Frei Basílio, 2022)


Não será menos enigmática esta página que as de Meus livros sagrados nem aquelas outras que repetem as bocas ignorantes, por julgá-las de um homem, não espelhos obscuros do Espírito.


Eu que sou o É, o Foi e o Será torno a condescender com a linguagem, que é tempo sucessivo e emblema.


Quem brinca com um menino brinca com algo próximo e misterioso; eu quis brincar com Meus filhos.


Estive entre eles com assombro e ternura.


Por obra de magia nasci curiosamente de um ventre.


Vivi enfeitiçado, encarcerado num corpo

e na humildade de uma alma. Conheci a memória, essa moeda que não é nunca a mesma. Conheci a esperança e o temor, esses dois rostos do incerto futuro. Conheci a vigília, o sono, os sonhos, a ignorância, a carne, os torpes labirintos da razão, a amizade dos homens, a misteriosa devoção dos cães.


Fui amado, compreendido, louvado e pendi de uma cruz.


Bebi o cálice até as fezes. Vi por Meus olhos o que nunca havia visto: a noite e suas estrelas. Conheci o polido, o arenoso, o díspar, o áspero, o sabor do mel e da maçã, a água na garganta da sede, o peso de um metal na palma, a voz humana, o rumor de uns passos sobre a relva, o odor da chuva na Galileia, o alto grito dos pássaros.


Conheci também a amargura.


Encomendei esta escrita a um homem qualquer; nunca será o que desejo dizer, não deixará de ser seu reflexo.

De Minha eternidade caem estes signos.

Que outro, não o que é agora seu amanuense, escreva o poema.


Amanhã serei um tigre entre os tigres e predicarei Minha lei a sua selva, ou uma grande árvore na Ásia.


Às vezes penso com nostalgia no odor dessa carpintaria.


Trad.: Carlos Nejar e Alfredo Jacques. Revisão de trad.: Maria Carolina de Araújo e Jorge Schwartz



Juan, I, 14

Jorge Luis Borges –


No será menos un enigma esta hoja que las de Mis libros sagrados ni aquellas otras que repiten las bocas ignorantes, creyéndolas de un hombre, no espejos oscuros del Espíritu. Yo que soy el Es, el Fue y el Será, vuelvo a condescender al lenguaje, que es tiempo sucesivo y emblema. Quien juega con un niño juega con algo cercano y misterioso; yo quise jugar con Mis hijos. Estuve entre ellos con asombro y ternura. Por obra de una magia nací curiosamente de un vientre. Viví hechizado, encarcelado en un cuerpo y en la humildad de un alma. Conocí la memoria, esa moneda que no es nunca la misma. Conocí la esperanza y el temor, esos dos rostros del incierto futuro. Conocí la vigilia, el sueño, los sueños, la ignorancia, la carne, los torpes laberintos de la razón, la amistad de los hombres, la misteriosa devoción de los perros. Fui amado, comprendido, alabado y pendí de una cruz. Bebí la copa hasta las heces. Vi por Mis ojos lo que nunca había visto: la noche y sus estrellas. Conocí lo pulido, lo arenoso, lo desparejo, lo áspero, el sabor de la miel y de la manzana, el agua en la garganta de la sed, el peso de un metal en la palma, la voz humana, el rumor de unos pasos sobre la hierba, el olor de la lluvia en Galilea, el alto grito de los pájaros. Conocí también la amargura. He encomendado esta escritura a un hombre cualquiera; no será nunca lo que quiero decir, no dejará de ser su reflejo. Desde Mi eternidad caen estos signos. Que otro, no el que es ahora su amanuense, escriba el poema. Mañana seré un tigre entre los tigres y predicaré Mi ley a su selva, o un gran árbol en Asia. A veces pienso con nostalgia en el olor de esa carpintería.


Jorge Luís Borges (1899-1986)

Suas obras abrangem o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". São coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns: sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores fictícios, livros fictícios, religião e Deus.

Em sua campa, no Cemitério de Plainpalais, em Genebra, na Suíça. está uma inscrição em Inglês Antigo, língua que ensinou na Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Trata-se do poema Battle of Maldon, que se traduz em “não tenhas medo de nada”.


As suas obras destacam-se por abordar temáticas como a filosofia (e seus desdobramentos matemáticos), metafísica, mitologia e teologia, em narrativas fantásticas onde figuram os "delírios do racional" (Bioy Casares), expressos em labirintos lógicos e jogos de espelhos.

Seus trabalhos têm contribuído significativamente para o gênero da literatura fantástica. Estudiosos notaram que a progressiva cegueira de Borges ajudou-o a criar novos símbolos literários através da imaginação, já que "os poetas, como os cegos, podem ver no escuro".[7][8] Os poemas do seu último período dialogam com vultos culturais como Spinoza, Luís de Camões e Virgílio.

Para homenagear Borges, em seu romance O Nome da Rosa[9] Umberto Eco criou o personagem "Jorge de Burgos", que além da semelhança no nome, é cego — assim como Borges foi ficando ao longo da vida. Além da personagem, a biblioteca que serve como plano de fundo do livro é inspirada no conto de Borges "A Biblioteca de Babel" (uma biblioteca universal e infinita que abrange todos os livros do mundo).

Borges foi um ávido leitor de enciclopédias.... Ele sente uma relação amistosa com os livros.

Encontra-se sepultado no Cemitério de Plainpalais, em Genebra, na Suíça. A campa possui uma inscrição em Inglês Antigo, língua que ensinou na Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Trata-se do poema Battle of Maldon, que se traduz em “não tenhas medo de nada”.


"Ontologias fantásticas, genealogias sincrônicas, gramáticas utópicas, geografias ficcionais, múltiplas histórias universais, bestiários lógicos, silogismos ornitológicos, ética narrativa, matemática imaginária, thrillers teológicos, geometrias nostálgicas e memórias inventadas fazem parte da imensa paisagem que as obras de Borges oferecem tanto a estudiosos quanto a o leitor casual. E sobretudo, a filosofia, concebida como perplexidade, o pensamento como conjectura, e a poesia, a forma suprema da racionalidade. Escritor puro, mas, paradoxalmente, preferido por semioticistas, matemáticos, filólogos, filósofos e mitólogos, Borges oferece — pela perfeição de sua linguagem, de seus conhecimentos, do universalismo de suas ideias, da originalidade de suas ficções e da beleza de suas poesias—uma obra que honra a língua espanhola e a mente universal.]

(Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia livre)



Não será menos enigmática esta página que as de Meus livros sagrados nem aquelas outras que repetem as bocas ignorantes, por julgá-las de um homem, não espelhos obscuros do Espírito.

Eu que sou o É, o Foi e o Será torno a condescender com a linguagem, que é tempo sucessivo e emblema.

Quem brinca com um menino brinca com algo próximo e misterioso; eu quis brincar com Meus filhos.

Estive entre eles com assombro e ternura.

Por obra de magia nasci curiosamente de um ventre.

Vivi enfeitiçado, encarcerado num corpo e na humildade de uma alma. Conheci a memória, essa moeda que não é nunca a mesma. Conheci a esperança e o temor, esses dois rostos do incerto futuro. Conheci a vigília, o sono, os sonhos, a ignorância, a carne, os torpes labirintos da razão, a amizade dos homens, a misteriosa devoção dos cães.

Fui amado, compreendido, louvado e pendi de uma cruz.

Bebi o cálice até as fezes. Vi por Meus olhos o que nunca havia visto: a noite e suas estrelas. Conheci o polido, o arenoso, o díspar, o áspero, o sabor do mel e da maçã, a água na garganta da sede, o peso de um metal na palma, a voz humana, o rumor de uns passos sobre a relva, o odor da chuva na Galileia, o alto grito dos pássaros.

Conheci também a amargura.

Encomendei esta escrita a um homem qualquer; nunca será o que desejo dizer, não deixará de ser seu reflexo.

De Minha eternidade caem estes signos.

Que outro, não o que é agora seu amanuense, escreva o poema.


Amanhã serei um tigre entre os tigres e predicarei Minha lei a sua selva, ou uma grande árvore na Ásia.

Às vezes penso com nostalgia no odor dessa carpintaria.

Trad.: Carlos Nejar e Alfredo Jacques. Revisão de trad.: Maria Carolina de Araújo e Jorge Schwartz

Jorge Luis Borges – Juan, I, 14

No será menos un enigma esta hoja que las de Mis libros sagrados ni aquellas otras que repiten las bocas ignorantes, creyéndolas de un hombre, no espejos oscuros del Espíritu. Yo que soy el Es, el Fue y el Será, vuelvo a condescender al lenguaje, que es tiempo sucesivo y emblema. Quien juega con un niño juega con algo cercano y misterioso; yo quise jugar con Mis hijos. Estuve entre ellos con asombro y ternura. Por obra de una magia nací curiosamente de un vientre. Viví hechizado, encarcelado en un cuerpo y en la humildad de un alma. Conocí la memoria, esa moneda que no es nunca la misma. Conocí la esperanza y el temor, esos dos rostros del incierto futuro. Conocí la vigilia, el sueño, los sueños, la ignorancia, la carne, los torpes laberintos de la razón, la amistad de los hombres, la misteriosa devoción de los perros. Fui amado, comprendido, alabado y pendí de una cruz. Bebí la copa hasta las heces. Vi por Mis ojos lo que nunca había visto: la noche y sus estrellas. Conocí lo pulido, lo arenoso, lo desparejo, lo áspero, el sabor de la miel y de la manzana, el agua en la garganta de la sed, el peso de un metal en la palma, la voz humana, el rumor de unos pasos sobre la hierba, el olor de la lluvia en Galilea, el alto grito de los pájaros. Conocí también la amargura. He encomendado esta escritura a un hombre cualquiera; no será nunca lo que quiero decir, no dejará de ser su reflejo. Desde Mi eternidad caen estos signos. Que otro, no el que es ahora su amanuense, escriba el poema. Mañana seré un tigre entre los tigres y predicaré Mi ley a su selva, o un gran árbol en Asia. A veces pienso con nostalgia en el olor de esa carpintería.


Jorge Luís Borges (1899-1986)

Suas obras abrangem o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". São coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns: sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores fictícios, livros fictícios, religião e Deus.

Em sua campa, no Cemitério de Plainpalais, em Genebra, na Suíça. está uma inscrição em Inglês Antigo, língua que ensinou na Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Trata-se do poema Battle of Maldon, que se traduz em “não tenhas medo de nada”.


As suas obras destacam-se por abordar temáticas como a filosofia (e seus desdobramentos matemáticos), metafísica, mitologia e teologia, em narrativas fantásticas onde figuram os "delírios do racional" (Bioy Casares), expressos em labirintos lógicos e jogos de espelhos.

Seus trabalhos têm contribuído significativamente para o gênero da literatura fantástica. Estudiosos notaram que a progressiva cegueira de Borges ajudou-o a criar novos símbolos literários através da imaginação, já que "os poetas, como os cegos, podem ver no escuro".[7][8] Os poemas do seu último período dialogam com vultos culturais como Spinoza, Luís de Camões e Virgílio.

Para homenagear Borges, em seu romance O Nome da Rosa[9] Umberto Eco criou o personagem "Jorge de Burgos", que além da semelhança no nome, é cego — assim como Borges foi ficando ao longo da vida. Além da personagem, a biblioteca que serve como plano de fundo do livro é inspirada no conto de Borges "A Biblioteca de Babel" (uma biblioteca universal e infinita que abrange todos os livros do mundo).

Borges foi um ávido leitor de enciclopédias.... Ele sente uma relação amistosa com os livros.

Encontra-se sepultado no Cemitério de Plainpalais, em Genebra, na Suíça. A campa possui uma inscrição em Inglês Antigo, língua que ensinou na Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Trata-se do poema Battle of Maldon, que se traduz em “não tenhas medo de nada”.

"Ontologias fantásticas, genealogias sincrônicas, gramáticas utópicas, geografias ficcionais, múltiplas histórias universais, bestiários lógicos, silogismos ornitológicos, ética narrativa, matemática imaginária, thrillers teológicos, geometrias nostálgicas e memórias inventadas fazem parte da imensa paisagem que as obras de Borges oferecem tanto a estudiosos quanto a o leitor casual. E sobretudo, a filosofia, concebida como perplexidade, o pensamento como conjectura, e a poesia, a forma suprema da racionalidade. Escritor puro, mas, paradoxalmente, preferido por semioticistas, matemáticos, filólogos, filósofos e mitólogos, Borges oferece — pela perfeição de sua linguagem, de seus conhecimentos, do universalismo de suas ideias, da originalidade de suas ficções e da beleza de suas poesias—uma obra que honra a língua espanhola e a mente universal.]

(Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia livre)


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