Carta enviada a Frei Joaquim Fonseca de Souza, Professor Doutor em Liturgia e Música Sacra, no dia 15/06/2020.
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"Frei Joaquim, Boa noite! Como vai? Que triste situação estamos vivendo, hein? Não só a pandemia do Corona Virus. Também a pandemia ideológica e as loucuras dos nossos agentes públicos.
Você mostrou interesse e curiosidade intelectual pelo projeto pastoral do Papa Celestino VI. É um exercício de fantasia para criticar e provocar a reflexão sobre a eclesiologia e a tarefa e missão da Igreja no mundo contemporâneo.
Como exercício literário está, ainda, em elaboração. A ideia de um Papa que renuncia após fazer umas reformas na instituição igreja. É uma crítica à eclesiologia do Santo Papa João Paulo II ("Até que a morte os separe" e "Jesus não desceu da cruz") e a algumas ideias de outros Bispos, inclusive os de Roma. Perdeu, um pouco o interesse, depois que Bento XVI, renunciou.
Se quiser, e tiver tempo livre, para distrair-se com uma leitura diletante, um passatempo de fantasia, veja, em anexo.
Como está sua saúde? Está se cuidando? Aqui, no Noviciado São Benedito, estamos em um regime de plena vida contemplativa. Há 3 meses que não saio de casa: muita oração, Liturgia das Horas completas, que eu amo muito! Muita meditação, estou meditando as "Revelações do Amor Divino" de Juliana de Norwich, e outros; muita leitura, trabalho manual nos jardins, trabalho na biblioteca, estou revendo uns textos sobre a história recente do Brasil, desde 1964.
Tenho um Blog, está no início, mas há uns textos interessantes. O primeiro, meu, "Algumas Reflexões sobre a Pandemia que nos Ronda". Você já viu o vídeo "Carta à Humanidade" de Carlos Bracher (está lá), é admirável. A "Missa sobre o Mundo" de Teilhard de Chardin, você conhece? Está lá, em português, em francês e em inglês.
Se quiser dar uma olhada, veja: no Google, digite: freibasilioderesende.org
Um grande abraço,
Fr.basílio"
PROJETO PASTORAL
D0 PAPA CELESTINO VI,
BISPO DE ROMA
(NOS TEMPOS PÓS CONCÍLIO VATICANO II)
PROJETO DE PASTOREIO DO REBANHO DE CRISTO
(AINDA EM GESTAÇÃO E ELABORAÇÃO NA ORAÇÃO, REFLEXÃO E DISCERNIMENTO)
1. UM DIÁLOGO COM O SER HUMANO.
Viver a fé, - numa identificação crescente com Jesus, o homem que reconciliou a humanidade consigo mesma, com o divino que há nela, e com Deus Pai – em um profundo sentimento de simpatia e de diálogo com o ser humano: com o que há de demoníaco e com o que há de divino nele.
Não negar a tremenda realidade do mistério da iniquidade que vige no ser humano e afirmar o mistério da graça que o sustenta e anima. Há uma ambiguidade ontológica no ser humano: o bem e o mal estão misturados, o joio e o trigo crescem juntos nele e dão seus frutos (inclusive em mim).
O desejo e a sede de infinito que o constitui, pode desviá-lo para se criar e se desenvolver, no horizonte de um mundo fechado e finito, em direção à satisfação de um egoísmo feroz (individual e coletivo) na busca
- do orgulho e soberba que despreza os outros;
- da cobiça e avareza que acumula bens e riquezas;
- da inveja e despeito que odeia e nega o diferente;
- da ira e violência que destrói e mata;
- da gula e voracidade que se afoga no sensorial;
- da luxúria e abuso que estupra e descarta;
- da preguiça e indolência que se torna insensível e irresponsável.
Mas esse mesmo desejo e sede de infinito que o constitui, pode direcioná-lo (individual e coletivo), na perspectiva de um mundo aberto e infinito, a buscar e encontrar o prazer e a felicidade compartilhada
- no altruísmo generoso e solidário que busca viver e conviver;
- na humildade companheira e solidária;
- na partilha e solidariedade dos bens e riquezas;
- na bondade que gera amizades;
- na paciência, nobreza e reciprocidade de sentimentos;
- na sobriedade e temperança na mesa com amigos e irmãos;
- no amor fiel e respeitoso com os parceiros íntimos; - no trabalho criativo e no empenho pelas pesquisas, descobertas e realizações - nas ciências, nas artes, nas técnicas – tornando o mundo, a existência e as relações humanas uma obra de beleza em louvor do Criador invisível e inefável dos Universos.
É preciso ter vigilância e discernimento para fazer as escolhas libertadoras e integradoras do divino em cada indivíduo e entre ele e os outros e a natureza, e em cada coletividade humana micro ou macro (: indivíduo, família, clã, tribo, nação, povo, língua e conglomerados).
2. O QUE É A IGREJA DE JESUS CRISTO E QUAL A SUA MISSÃO HISTÓRICA
Ver a segunda leitura do Ofício das Leituras, do sábado da 7ª Semana do Tempo Pascal “Dos Sermões de um Autor africano anônimo do século VI –
“A unidade da Igreja fala todas as línguas”
– Responsório: Deus conhece os corações, deu aos povos seu Espírito da mesma forma como a nós. Não fez nenhuma distinção entre nós e os gentios, aleluia, mas, pela fé, seus corações tornou puros, aleluia. Deus, portanto, deu também às nações a conversão que encaminha para a vida.” (At 15,8-9; 11, 18b)
Esforçar-se por equilibrar o ministério paulino (: o princípio do arroubo e a audácia evangelizadora de ir além-fronteiras, de ir aos areópagos) com o ministério petrino (: o princípio da estabilidade e de garantir a estabilização e a unidade dinâmica da instituição) no interior da Igreja e no serviço às sociedades e culturas onde a Igreja já está implantada ou deverá vir a ser.
Queremos sensibilizar e criar comunidades de fé em modelo circular, na qual os carismas possam florescer, inclusive o carisma de administrar, de dirigir e de governar em forma participativa, democrática, transparente e dialogal no respeito ao Deus que está no outro, enquanto pessoa e enquanto papel social.
3. ORDENAÇÃO PRESBITERAL DE HOMENS CASADOS OU CELIBATÁRIOS.
Serão ordenados presbíteros da Igreja a serviço do povo de Deus e da sociedade humana sedenta de justiça e de dignidade, no sentido do Reino inaugurado por Jesus Cristo, os batizados casados ou solteiros que experimentarem o chamado do Espírito Santo para esse ministério e estarem devidamente preparados segundo o critério do seu Bispo diocesano.
Aos atuais sacerdotes celibatários ordenados na forma tradicional da Igreja do rito latino, seja-lhes dada a opção de discernir e escolher por continuarem no celibato ou de assumirem o matrimônio em seu ministério ordenado.
Aos que deixaram o ministério presbiteral (no celibato exigido pelo Direito Canônico da Igreja de Rito Latino) para viverem o matrimônio ou casamento civil ou união estável, seja-lhes concedido o dom do sacramento matrimonial e o convite a reassumir o ministério presbiteral, se para isso o Espírito os impelir.
4. ORDENAÇÃO DE MULHERES PARA O MINISTÉRIO PRESBITERAL, CASADAS OU CELIBATÁRIAS.
“Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus.” (Gl 3,27-28).
Todas as pessoas batizadas, sem distinção de sexo, sejam admitidas, em caso de vocação, ao ministério ordenado para agir na Igreja – in nomine Christi – exercendo o tríplice ‘Munus’ Sacerdotal, Profético e Régio de Cristo para o seu povo: a presidência da mesa da Palavra, da mesa do Pão e do Vinho, e da mesa da Caridade.
Às Comunidades de discípulos e missionários do Evangelho de Jesus foi-lhes concedido o dom de celebrar e presenciar o MEMORIAL DO CORPO E DO SANGUE DO SENHOR, O DOM DA EUCARISTIA. Não importa o gênero da pessoa que preside o Memorial do Senhor. O que importa é a fé da Assembleia reunida que acolhe e proclama a Palavra e celebra o Corpo do Senhor ressuscitado no meio deles. Mulheres ou homens podem ser preparados e ordenados para presidir a Ceia Eucarística, porque quem realmente preside - na pessoa do eventual presidente da Assembleia sacramental reunida em seu nome, - é o próprio Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que comunica sua Palavra e seu Corpo e Sangue aos presentes e os plenifica com o Seu Espírito.
Mais uma vez, a anatomia, a fisiologia, o comportamento moral de quem preside a Assembleia Sacramental não tem significação teológica diferenciada para o efeito da graça: a presença viva do Senhor no meio deles (Mt 18,20). O que importa é o caráter sacramental da Assembleia reunida. É a Esposa em união com o Esposo que se dirige ao Pai, no Espírito, louva o seu Nome e implora a sua Graça salvadora por sobre o mundo, e depois, vai à missão e ao testemunho de vida.
5. A ELEIÇÃO DOS BISPOS PELO POVO CRISTÃO
Fim do cargo vitalício dos bispos, (inclusive do bispo de Roma) e a eleição e nomeação dos bispos (inclusive do bispo de Roma).
A renúncia – ao ministério, mas não à evangelização - dos bispos (inclusive do bispo de Roma), aos 75 anos, ou quando se sentir e se perceber que já não tem saúde ou aptidão psicológica para o serviço do pastoreio apostólico do povo de Deus sob os seus cuidados.
Eleição dos bispos com a participação e voto de todo o povo cristão (os fiéis leigos, os presbíteros, comunidades eclesiais, religiosos/as consagrados/as):
A. ELEIÇÃO DO BISPO DE ROMA
Seguir o modelo da eleição de são Matias para o colégio dos 12 apóstolos (At 1, 15-26):
“Em um daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembleia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e disse: “Irmãos, convinha que se cumprisse o que o Espírito Santo predisse na escritura pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus. Ele era um dos nossos e teve parte no nosso ministério. Esse homem adquirira um campo com o salário de seu crime. Depois, tombando para a frente, arrebentou-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram. (Tornou-se este fato conhecido dos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado na língua deles Hacéldama, isto é, Campo de Sangue). Pois está escrito no Livro dos Salmos: ‘Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite’; e ainda mais: ‘Que outro receba o seu cargo’ (Sl 68,26; 108,8). Convém, pois, que destes homens que têm estado em nossa companhia todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, a começar do batismo de João até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um deles se torne conosco testemunha da sua Ressurreição”. Propuseram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome Justo, e Matias. E oraram nestes termos:
“Ó Senhor, que conheces os corações de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste para tomar neste ministério e apostolado o lugar de Judas que se transviou, para ir para o seu próprio lugar”.
Deitaram sorte e caiu a sorte em Matias, que foi incorporado aos onze apóstolos.”
Na escolha dos candidatos, seguir os critérios apresentados:
- Em Atos 1,22-23:
“destes homens que têm estado em nossa companhia todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, a começar do batismo de João até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um deles se torne conosco testemunha da sua Ressurreição”;
- Em Atos 6,3:
"Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste ofício."
- Em 1Pedro 5,1-4:
"Eis a exortação que dirijo aos anciãos que estão entre vós; porque sou ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e serei participante com eles daquela glória que se há de manifestar.Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação; não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho. E, quando aparecer o supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória.”
Seguindo esses critérios serão indicados os candidatos pela conferência episcopal de cada Continente, um candidato por Continente: serão, pois, 5 candidatos (um da Europa, um da América, um da África, um da Ásia, um da Oceania).
Toda a Igreja reunida reza a oração de At 1,24-25,
“Ó Senhor, que conheces os corações de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste para tomar neste ministério e apostolado o lugar de Judas que se transviou, para ir para o seu próprio lugar”.
E tira-se a sorte entre os 5 candidatos, e está indicado o sucessor de Pedro, como Bispo de Roma.
Esse é o indicado pelo Espírito Santo
B. ELEIÇÃO DOS BISPOS DAS IGREJAS DIOCESANAS
Seguir o mesmo método e critérios da eleição do Bispo de Roma.
Conforme Atos 1,15-26, At 6,3 e 1P 5,1-4: indicam-se 5 candidatos, reza-se a oração de At 1,24-25 e tira-se a sorte entre os 5 candidatos. O sorteado é o nomeado por Deus.
6. O ECUMENISMO (EXPRESSÃO DE FÉ NO SENHOR E NO SEU ESPÍRITO QUE NOS QUER UNIDOS NUM SÓ CORPO)
Como São Paulo, em 1Cor 12,3, pensa, crê e, em consequência, assim quer atuar, o Papa Celestino VI: “Por isso, agora, eu vos declaro que ninguém, falando pelo Espírito de Deus, vai dizer: “Jesus seja maldito”, como também ninguém será capaz de dizer: “Jesus é Senhor”, a não ser pelo Espírito Santo”. O diálogo e a cooperação das Igrejas cristãs para desfrutarem do Dom do Espírito Santo que é a unidade e a comunhão, e para a evangelização do mundo, e serem testemunhas do ressuscitado e sinais do Reino de Deus no meio das sociedades onde vivem:
- plena união e comunhão da Igreja romana com a Igreja ortodoxa, respeitando os usos, costumes e ritos de cada Igreja (com uma atenção especial de perdão recíproco e misericórdia evangélica em relação à situação dos unionitas);
- união da Igreja romana com a Igreja luterana e com as Igrejas tradicionais separadas da Igreja de Roma;
- um convite da Igreja romana às modernas Igrejas evangélicas ao diálogo e à união na fé e na proclamação da Palavra do Senhor e na missão;
- um convite da Igreja romana às novas Igrejas evangélicas pentecostais e sionistas ao diálogo, ao respeito mútuo e à cooperação pelo Reinado do Senhor Jesus.
Todos nós, em comunidades que expressam sua fé - em símbolos, culturas e rituais diversos, – buscamos e queremos viver de forma cada vez mais frutuosa a comunhão com o Pai, com seu Filho nosso Senhor Jesus Cristo e com o Espírito Santo. Queremos viver, em justiça e santidade, a fraternidade universal, o cuidado pela casa comum que é o nosso planeta, o diálogo e intercâmbio entre raças, povos, línguas e nações.
7. O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
A abertura, simpatia e cooperação com todas as buscas dos seres humanos não crentes num Deus vivo e na dimensão transcendente da existência humana; com aqueles que constroem suas vidas, sua paixão por viver e criar algo belo, algo bom, algo verdadeiro e profundamente humano, algo justo e solidário num projeto intramundano.
Reconhecemos nesse empenho, algo de sagrado e de divino.
Reconhecer, saudar e respeitar todas as formas de crenças teístas ou ateístas; todas as formas de religiosidade ou de espiritualidade. São buscas do coração humano, “inquieto e sedento de encontrar repouso seguro” e respostas às suas indagações e angústias fundamentais pelo sentido do mundo, da existência humana.
7. A REFORMA DA CÚRIA ROMANA
Muito das funções, tarefas e serviços reservados à Cúria Romana, devem ser atribuídos às Conferências Episcopais, em comunhão com o Bispo de Roma.
8. A FUNÇÃO DO JORNAL “L’OSSERVATORE ROMANO”
Deve ser um meio de comunicação, informação e partilha da Igreja toda e das Igrejas particulares entre si. Essas falam todas as línguas, e se expressam em todas as culturas e civilizações.
Esse órgão de informação, comunicação e partilhas, não deve ser, apenas e sobretudo, uma reportagem e crônicas dos atos e palavras do Bispo de Roma, num exagerado culto da personalidade.
Repetindo: o L’Osservatore Romano deve ser um porta voz da Igreja universal e das Igrejas particulares, e de todas as suas riquezas na área da evangelização das culturas e do testemunho do Reino, e não o porta voz apenas do bispo de Roma.
9. A CANONIZAÇÃO DOS SANTOS
A questão da ‘canonização’ de homens e mulheres, discípulos apóstolos e missionários de Jesus Cristo e sinais testemunhas do seu Reino, é algo complexo e complicado.
Ser canonizado ou não ser canonizado, não tem sentido algum para a pessoa cristã que cumpriu sua missão neste mundo, que viveu na esperança de participar da glória do seu Senhor Jesus ressuscitado junto ao Pai celeste e a multidão de seus antepassados e ancestrais, santos e santos, com os anjos de Deus.
Ser canonizado ou não, nada acrescenta ao indivíduo humano cristão – homem ou mulher – que veio a conhecer Jesus, o Cristo, o Filho do Deus Vivo, e, por isso mesmo, tornou-se mais autenticamente humano, solidário com todo outro ser humano, e comprometido com a condição humana em sociedade e com o meio ambiente, a natureza, e com o cosmos em seu destino e história.
Há muito egoísmo de grupos e concorrência entre religiosos, de quem tem mais santos canonizados. A canonização, mesmo com as simplificações recentes pelos últimos papas São João Paulo II e Francisco, é um processo caro e dispendioso. Envolve muito interesse simbólico.
Por que temos tão poucos santos ou santas canonizados leigos, pais e mães de família? Por que os seus herdeiros não vão investir suas economias herdadas em um dispendioso processo.
No entanto, o ser humano necessita de referências e modelos de identificação, para seu exercício de crescimento e evolução espiritual, humanizadora e santificadora.
Então, o Bispo de Roma Celestino VI, vai canonizar algumas pessoas. A canonização significa que a Igreja afirma solenemente que, em algumas pessoas, triunfou um amor generoso e heroico; nessas pessoas a egoísmo individual e etnocentrismo cultural foi superado; estas pessoas não colocaram nenhum obstáculo à graça divina criadora e santificadora; ao contrário, colaboraram integralmente e com fidelidade, teimosia e persistência em não retaliar ao mal com o mal, que venceram o mal com o bem, que responderam ao ódio com amor, que aceitaram sofrer em vez de fazer sofrer.
O critério de avaliação é das bem-aventuranças do Evangelho; sem elas o saberem, orientaram, iluminaram e transfiguraram suas existências. O Espírito Santo, que sopra onde quer, nessas pessoas encontrou um campo fértil e deu muitos frutos de beleza humana verdadeira; deram frutos de amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e autodomínio.
Então, seguindo esses critérios do evangelho, o Bispo de Roma –com sua autoridade apostólica - vai canonizar, declarar santos, homens e mulheres de todas as sociedades, estados de vida, solteiros ou casados, também de culturas e religiões não cristãs. Nessas pessoas o egoísmo (em suas manifestações desordenadas de orgulho, soberba, autossuficiência, cobiça, inveja, ira, gula, luxúria, concupiscência, preguiça, indiferença) não colocou empecilho à ação da graça, ao amor.
10. O DESTINO DO ESTADO E DO PATRIMÔNIO CULTURAL DO VATICANO.
O Bispo de Roma, não deve mais ser chefe de Estado. Nem deve mais existir um Estado, dispendioso, com todas as suas estruturas, instituições, serviços e funcionários e carreiras diplomáticas, etc.
E todo o seu patrimônio cultural, - museus, bibliotecas, etc... - deve pertencer à humanidade, e ser entregue aos cuidados da Unesco.
São um gigantesco testemunho da Fé em Jesus de Nazaré, no Cristo crucificado e ressuscitado, através da história, das civilizações e da cultura dos povos.
Não devem ser da propriedade de uma confissão cristã. São patrimônios da humanidade.
11. A ITINERÂNCIA DO BISPO DE ROMA E SUA MORADIA.
O Bispo de Roma encontrará uma residência modesta como convém a um discípulo de Jesus, no serviço da porção do seu povo a ele confiado, em Roma, no colegiado com os Bispos do povo de Deus, espalhado por todo o mundo.
Um Bispo auxiliar, será o delegado do Bispo de Roma, no cuidado pastoral e evangelizador da Diocese romana.
O sucessor de Pedro, tem a missão de confirmar na Fé todos os Bispos do mundo e todos os batizados. E o serviço da caridade universal fará dele, de fato, um peregrino através dos Dioceses, e Conferências episcopais do Globo terrestre.
12. O COLEGIADO APOSTÓLICO
Como Pedro, convocava a assembleia dos Apóstolos e das comunidades cristãs, o Bispo de Roma, via instaurar um mecanismo e um processo de intenso e frequente escuta, e ausculta do que o Espírito diz às Igrejas e às sociedades e comunidades para um diálogo criativo, verdadeiramente sinodal, intercultural, ecumênico, inter-religioso para a construção de uma verdadeira civilização e cultura do encontro, do diálogo, do amor, da inclusão, da justiça.
13. AS CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS
Estas recebem do Espírito Santo o tríplice Munus de Cristo - Sacerdote, Profeta e Rei pastor - a serviço da porção do povo de Deus na área onde vivem.
Elas e os Bispos locais recebem os dons, os poderes e as funções adequadas ao governo da Igreja local, antes centralizados na cúria romana.
CRISE DE IDENTIDADE DO PAPA CELESTINO VI
(Anotações de um caderno pessoal)
“Sinto-me dividido e fragmentado entre o que eu sou em minha intimidade e solidão, como criatura de Deus, - pessoa em relação num mundo em processo histórico e cultural, em relação com a natureza, com as outras pessoas, com as culturas e com Deus invisível que se nos revelou e comunicou em Jesus de Nazaré – e os papéis institucionais que devo exercer e minhas identificações sociais a partir das expectativas de tantos em relação a meus papéis.
Estou dividido entre:
- Ser o guardião de um “corpus” de doutrinas ou ser um irmão em diálogo teológico e pastoral com outros irmãos, próximo e compassivo de cada outro ser humano em sua cruz existencial e moral (Rm 7)?
- Ser o administrador de um museu (guardador de um material, de um potencial simbólico, de costumes, vestes, ritos, papéis, padrões comportamentais...), ou ser um sinal que aponta para Jesus, crucificado em cada ser humano que sofre e ressuscitado na esperança em cada um/a (nos cristãos, de forma consciente e convicta; nos não cristãos, de forma inconsciente e inquieta)?
- Ser um chefe de Estado ou ser um anunciador e testemunha do Reino de justiça, de verdade, de liberdade, de bondade, da beleza e do amor?
- Ser um controlador de padrões morais de comportamentos, ou ser alguém que – pela sua maneira de ser e se relacionar - chama à conversão e à fé no Evangelho (Mc 1), à busca de uma verdade interior que dá força e paz interior no encontro com uma Pessoa viva que caminha ao seu lado na existência?
- Exercer um papel público sendo uma personagem midiática, tipo pop star, ou ser um discípulo humilde e sincero do Galileu Jesus, seguindo seus passos – com temor e tremor - e mostrando em mim ‘o caminho, a verdade e a vida’ que é Cristo vivendo em mim? (‘Não sou eu mais que vivo, Cristo é que vive em mim’)
- Ser um produtor de sentido, de doutrinas e práticas para o consumo insaciável da mídia e de pessoas alienadas e manipuladas por ela, ou ser o sucessor do pescador da Galileia no Bispado de Roma, presidindo na Caridade todas as Igrejas; e numa profunda e viva empatia para com tudo é que é belo, bom, verdadeiro e humano – como dons do Espírito – nas pessoas, civilizações, culturas, crenças sem referência e conhecimento de Jesus, o Filho de Deus?
- Ser o chefe de uma macro organização e de um micro estado, ou ser o líder inspirador de uma Comunidade de discípulos do Evangelho de Jesus Cristo formada de muitas tribos, culturas, línguas, nações e estados; esta Comunidade de discípulos e discípulas organizada em comunidades de irmãos e irmãs a serviço de todos nessas diversas culturas? ”
Alguns escritos do Papa Celestino VI:
1.
“Os crentes em mim -
Que sou o Deus vivo –
julgam prestar culto a mim
construindo soberbos edifícios
e imagens de pedra, ouro e prata.
Salpicaram o globo terrestre
de templos, igrejas e catedrais.
Mas se esqueceram e descuidaram
dos templos vivos
que eu criei, quis e quero para mim:
Eles mesmos!”
(nos anos 1960)
2.
“Você sabe:
Eu serei feliz e estarei contente comigo mesmo
enquanto contribuir constante
para que:
cada boca receba o seu pão
cada gesto encontre seu sentido de doação
cada falante encontre seu ouvinte
cada pergunta atinja sua resposta
cada busca chegue à sua meta.
Para isto:
me faço humano e fraterno,
cada manhã,
como homem, sacerdote, religioso
e agora, também, como psicólogo”
(acréscimo ao convite de formatura de Psicologia na UFMG,
dezembro de 1978, com o poema ‘Tarefa’ de Geir Campos)
3.
“Estou casado,
em matrimônio perfeito,
com a gota d’água e com o oceano,
com o grão de areia e com o cosmo.
Também com a ausência
da gota ou do oceano,
do grão de areia ou do cosmo.”
(nos anos 1970)
4. ULTIMA MENSAGEM (antes de morrer)
(Escrito em 1978, na sala de aula da UFMG, numa dramatização da própria morte)
A todos vocês
- a quem conheci e amei
como um pai
como uma mãe
como um irmão ou irmã
como uma namorada
como uma esposa-amante
como um filho querido, -
deixo esta mensagem: estarei com vocês.
Estou bem.
Acredito em cada coisa que fiz.
Estarei no íntimo e no coração de vocês,
em cada raio de sol.
Este meu corpo
será terra dentro de pouco.
Serei como a terra que sustenta
ama e embala vocês.
Serei alma e coração de cada átomo
da terra que os sustenta,
da água que bebem,
do ar que respiram,
do sol que os envolve e ilumina,
do corpo de vocês.
Agora estarei onde quero estar: com vocês.
Não onde meu corpo é colocado
pelo espaço
e pelo tempo.
O que fiz,
eu amo.
O que não fiz,
outros farão por mim.
Creio na força da Vida
que impele vocês a realizar o que desejam.
Tenham coragem.
Estou sereno e feliz
por ter conhecido e recebido
tudo o que sou de vocês.
Disse tudo.
Estarei no teu coração.
(Escrito em 1978, pelo aluno Sylvério Bosco de Resende, numa sessão de formação em terapia de Análise Transacional, dirigida por Geraldo Magnani, na UFMG. Imaginou-se que a sessão se dava numa sala de um avião transatlântico que acabara de levantar voo em Buenos Aires, sobrevoava os Andes, e entrou em pane, com as turbinas explodindo, e todos morreriam. Pediu-se a cada participante que escrevesse uma mensagem a uma pessoa em especial que seria colocada numa caixa de metal, uma caixa preta, que seria preservada . Atuava-se uma dramatização e vivência da morte, e dos vínculos resolvidos, ou não, diante da separação definitiva).
5.
Respondendo ao Visitador Geral, Frei Bruno Goetems, em 1988, que o informou que seu nome estava entre os 5 mais votados na primeira prévia para o serviço de Ministro Provincial e o interrogou se queria retirar o seu nome da lista de candidatos ou não. Respondeu: “Enquanto eu me percebo, eu não tenho nem apetência, nem competência para este serviço. De outro lado, este é um trabalho que alguém tem que fazer. Pode deixar o meu nome na lista. Não creio que serei eleito. Mas se me indicarem, terão que me aguentar.”
Paz plena. "Deus está no comando". Corrigindo o "Deus está no momendo".
Paz plena. Frei Basílio, como me lembro de ter-lhe dito no dia 11/01/1980, por volta das 16:15 horas:
"Basílio, em mim não existe mais ódio. Ódio para mim é uma palavra histórica".
Agora por causa da incompreensão de quem deveria compreender o processo ficou bem lento e quase foi por água abaixo, mas DEUS está no comendo e a hora da vitória plena do BEM está chegando. Rosário. (09/10/2022).